Virgínia Quaresma

Virgínia Quaresma (Elvas, 28 de dezembro de 1882 — Lisboa, 26 de outubro de 1973)

Nascida em 1882, Virgínia Quaresma desenvolveu ao longo da primeira metade do século XX uma profícua carreira como jornalista, ao lado de uma atuação internacional pelos direitos das mulheres, pela igualdade na educação para meninos e meninas, pela democracia, pela causa republicana e pelo pacifismo. 

Reconhecida como a primeira jornalista em Portugal, afastou-se dos lugares e modos de escrita comumente reservados para as mulheres até ali e dedicou-se às reportagens investigativas, seguindo os princípios da objetividade e do apuramento exaustivo dos fatos que começavam a ganhar terreno sobre o jornalismo mais opinativo que caracterizara o século XIX. 

Exerceu a profissão em importantes veículos da imprensa portuguesa da altura, como ‘O Século’, ‘A Capital’ e ‘A Época’, e, também, no Brasil, país em que viveu por dois períodos (1912-1917) e (1930-1964), buscando afastar-se da atmosfera opressiva do Estado Novo português, pouco convidativa para uma mulher negra, lésbica e com fortes convicções políticas, abertamente partidária das causas feministas.

De facto, para além do destaque que alcançou como profissional de imprensa, Virgínia Quaresma foi também conferencista de renome sobre as ideias feministas e sobre a necessária vinculação entre o feminismo e a democracia, defendendo a coeducação (currículos iguais para meninos e meninas) como instrumento fundamental para a emancipação das mulheres. Para ela, não era possível haver democracia sem igualdade de direitos entre homens e mulheres, como costumava afirmar já no período anterior à Proclamação da República, esta, também uma das bandeiras abertamente defendidas pela jornalista. 

Ao assumir, em 1907, a direção da recém-criada revista Alma Feminina, Quaresma abriu caminho para a profissionalização de outras jornalistas em Portugal, determinando que todo o trabalho jornalístico da revista – exercido por mulheres – fosse remunerado. Presente tanto no campo teórico quanto através de ações práticas como essa, Virgínia Quaresma destaca-se no panorama do século XX português como um grande nome em defesa de causas fundamentais para a transformação das relações de poder, nomeadamente das relações de género.

Embora não tenha abordado diretamente a causa racial ou a causa dos direitos dos homossexuais, sua presença no círculo intelectual e ativista, bem como o respeito e admiração que alcançou internacionalmente, marcaram a sociedade e deram visibilidade a uma mulher negra que nunca escondeu a sua orientação sexual. “Virgínia Quaresma reúne na sua trajetória de vida e atuação profissional e política diversas questões prementes para os Estudos Culturais”, declara Maria Manuel Baptista, Professora Catedrática em EC da Universidade de Aveiro, “por isso escolhemos dar o seu nome a este prémio, que vem marcar o atual amadurecimento e fortalecimento deste campo científico em Portugal”, conclui.