A crítica das estruturas do poder, do discurso e da identidade são temas caros aos Estudos Culturais bem como aos Estudos de Género, áreas que compõem os eixos teóricos da tese de Sara Vidal Maia, “Relações de Poder e Identidade(s) de Género: A sociedade ‘matriarcal’ de Ílhavo na década de 1950”, defendida em 2016, no Programa Doutoral em Estudos Culturais das Universidades de Aveiro e do Minho.
A autora aplica essa crítica ao estudo dos media e ao seu papel na construção, disseminação e interpretação das diferenças de género na sociedade portuguesa da segunda metade do século XX. Através da análise dos discursos textuais e imagéticos do jornal ‘O Ilhavense’, o estudo procura descontruir o mito de uma pretensa sociedade matriarcal na cidade de Ílhavo, no centro de Portugal. Marcada, no século XX, pela forte presença da indústria da pesca do bacalhau, Ílhavo conviveu durante décadas com a ausência dos homens durante a maior parte do ano, o que levou à criação de uma ideia de matriarcado na cidade, bastante difundida no senso comum. A tese de Sara Vidal Maia demonstra que os dispositivos de poder e controle social, nomeadamente aqueles articulados pela imprensa local, permaneciam ativos e reforçavam a atribuição de papéis sociais bem definidos e hierarquizados a homens e mulheres, sem ruptura com as estruturas patriarcais da cultura portuguesa.
“Quando se pensa sobre sujeitos, as suas relações com o Outro e a sua vivência em comunidade, existem várias opções epistemológicas, teóricas e disciplinares nas quais esse pensamento se pode alicerçar. Porém, nenhuma delas é tão completa, transversal, flexível e empiricamente tolerante como a que é apresentada pelos Estudos Culturais”, afirma Sara, que declara ainda: “Regozijo-me pela minha tese (que tem o género como temática principal) ser reconhecida, valorizada e laureada com um Prémio Internacional na área dos Estudos Culturais que tem o nome de Virgínia Quaresma, uma mulher de extrema importância na história nacional e além-fronteiras”.