Luce Irigaray, psicanalista, filósofa e feminista, nasceu a 3 de maio de 1930, em Bernissart, na Bélgica, onde cursou Psicologia e Psicopatologia, na Universidade Católica de Leuven. Em 1959, mudou-se para França, com o objetivo de prosseguir os seus estudos no ensino superior, na Universidade de Paris VIII (Vincennes), onde se doutorou em Linguística, em 1968. A autora, ligada ao feminismo europeu, é uma teórica, cujo escopo disciplinar vai desde a filosofia, passando pela psicanálise até à linguística. É uma investigadora que se debruça fundamentalmente sobre a exclusão/invisibilização das mulheres na cultura, com especial enfoque na história da filosofia, no sistema linguístico e na psicanálise.
Desde cedo se mostrou particularmente crítica do sistema patriarcal e do falocentrismo, posição essa que lhe criou muitas dificuldades enquanto professora universitária, por ter sido considerada demasiado radical. O seu primeiro livro, fruto da sua tese de doutoramento, intitulado Speculum: de l’autre femme (1974), levou-a à expulsão da École Freudienne de Paris, instituição fundada, em 1964, por Jacques Lacan, por criticar as psicanálises freudiana e lacaniana. A crítica de Luce Irigaray ao conhecimento científico, falocraticamente construído e imposto, fê-la pagar um preço profissional muito caro: impediu-a de prosseguir com a sua carreira como professora universitária na Universidade de Paris VIII – Vincennes.
A partir de 1964, Irigaray manteve apenas a posição de investigadora no Centro Nacional de Investigação Científica, em Paris (CNRS). Desde 2003 ministra seminários de apoio a doutorandos estudiosos das suas obras, sendo inegável o contributo do seu trabalho para muitos movimentos e autoras/autores feministas, como Judith Butler, Rosi Braidotti, Paul Preciado, entre outros.
Irigaray defende um mundo, onde a abordagem teórica e intelectual de uma compreensão sobre a diferença sexual se deve situar fora do discurso masculino. O contributo teórico irigariano passa pelo desenvolvimento da teoria sexual da diferença, denunciando não só a exclusão da mulher (como Outro-não sujeito) da matriz do poder, como também a vertiginosa e falocêntrica obsessão teórica sobre a origem do prazer feminino sob o signo determinista da vagina, como arma patriarcal de subjugação das mulheres. Em tempos de democracia ameaçada, Luce Irigaray vê a democracia como prática de igualdade e amor, constituindo uma forma política de escapar à exploração do outro pelo outro, que passa essencialmente pela crítica da redução dos sujeitos à mera condição de objeto para fins produtivos e reprodutivos.